Curadoria de Diogo Bento
A exposição Sixth Nature tem o seu foco em diferentes perspectivas e sensibilidades sobre a ecologia, a forma como nos relacionamos com a natureza e o ambiente em nosso redor.
Por muito que já tenha ocupado o seu lugar no discurso quotidiano, a introdução do Antropoceno no léxico científico e mais tarde nas ciências sociais e na arte contemporânea parece não ter contribuído para uma alteração do estado das coisas no que tange ao aceleramento do aquecimento global, agravamento das alterações climáticas e degradação do meio ambiente. Pelo contrário, ao implementar a noção de que todos somos responsáveis e que todos estamos envolvidos nesta encruzilhada, o Antropoceno, entendido como o 6º grande período geológico da Terra, caracterizado pelo impacto da actividade humana no funcionamento dos ecossistemas, não tem em consideração os processos históricos e sociais determinantes das presentes condições da relação entre a humanidade e a natureza, nomeadamente o imperialismo, o colonialismo, a opressão e a luta de classes.
As soluções apresentadas pela ciência para o combate às alterações climáticas, que advêm deste enquadramento Antropocénico, são geralmente de ordem técnica ou administrativa, alimentadas por uma compulsão securitária, capitalista e tecnológica.
O que a arte parece ter a capacidade (e o dever?) de fazer é apresentar leituras alternativas e moldar as narrativas dominantes, no sentido de abrir um leque de possibilidades para novas dimensões sociais, ecológicas e espirituais em torno das relações entre sociedade e ambiente. Enquanto espaço de construção e experimentação, as práticas artísticas contemporâneas têm o potencial de motivar um debate crítico e despoletar mudanças de atitude através da experiência estética que proporciona, mesmo que simbólica e limitada.
Os trabalhos aqui apresentados não se prestam à objectificação de problemáticas ambientais ou climáticas, nem tão pouco as abordam enquanto entidades autónomas, mas incorporam uma dimensão e considerações políticas e sócio-ecológicas, engendrando possibilidades de transformação com vista a uma política de justiça social.
A série Oikonomos, de Edson Chagas (Angola), encerra uma multitude de questionamentos e de camadas de leitura possíveis.
Os sacos de plástico com que ensaia estes auto-retratos povoam a paisagem dos mercados locais de Luanda e ostentam uma série de símbolos do capitalismo neo-colonial, são resíduos de uma cultura de dominação económica e assistencialismo, presentes no dia-a-dia dos países do Sul global.
Trata-se também de um protesto sensível e pessoal, onde o artista empreende, através de um jogo entre a cegueira e a vontade de não ver e a decapitação sugerida, o seu desespero perante a situação de asfixia económica, social e ecológica perpetrada pelos países ocidentais.
Lien Botha (África do Sul), em Wonderboom traça um relacionamento de diferentes ordens com a (sua) natureza, oferecendo-nos o seu universo íntimo e pessoal em formato de “cabinet” de curiosidades. Os objectos coleccionados pela artista, ainda que progressivamente desaparecendo do quadro (uma história de perda e esquecimento), deixam-nos os vestígios da sua presença. É a partir destas marcas, destas pré-existências, para lá do seu desaparecimento físico, que somos convidados a construir uma nova narrativa.
CENTRO PORTUGUÊS DE FOTOGRAFIA
Largo Amor de Perdição, 4050-008 Porto
+351 220 046 300
Ter > Sex 10h - 18h
Sáb, Dom e feriados 15h - 19h
*Feriados em Junho
Seg 10 > Qui 20 > Dom 23
Lien Botha
Edson Chagas