A notória passagem entre imagem e objeto, que percepcionamos à priori, constituem para o projeto fotográfico de Dinis Santos (S. João da Madeira - 1983) uma deriva no que tem sido o desenvolvimento da sua prática artística cambial dentro da fotografia.
Entre a matéria flamejante da imagem e o vinco diletante do objeto, entre dimensão e plano, forma e não-forma, da matéria até ao corpo, a imagem que Dinis Santos apresenta no Espaço MIRA, em contexto da CI.CLO Bienal de Fotografia do Porto, define-se como um corpo espectral, um dispositivo reflector e difusor, imagem verso e imagem espelho, parte culminar de um processo de pensamento mais amplo que o aqui sintetizado. O corpo luzente, apresentado em sequência tríptica, vascula entre a homogeneização e a difusão, carregando a potência de vários lugares e tempos aliado também à matéria que se socorre, o estanho.
Entre a maleabilidade, a solidez e o brilho do metal, a superfície sobrecarrega-se de reflectir a adaptação e transição de múltiplos diálogos emergentes na mácula de um estado social, humano e ecológico nefasto no presente. Da corruptível cultura extrativista e da subintenção evolutiva do planeta, o estanho torna-se assim matéria de antagonismos perpetuada entre a sua falsa luminescência e o seu calabouço negrume.
Texto de João Terras